O atentado sofrido por Donald Trump no último sábado, tem dividido opiniões a respeito de sua veracidade. Isto porque a “vítima” do ataque é um velho e conhecido mentiroso contumaz, sem escrúpulos, capaz de fazer qualquer coisa que o favoreça. Até mesmo, forjar um atentado contra si. Mas não é esta a afirmação que estou fazendo aqui. Embora, não nos falte motivos para deixarmos de acreditar no milagre que salvou a sua vida. Afinal, estamos falando de disparos de AR-15, uma arma semiautomática cujo poder destruidor não deixaria a orelha do ex-presidente norte-americano aparentemente intacta como vimos nas fotos, ainda que apenas tenha a beliscado de raspão. Furar a orelha para pôr um brinco teria feito um estrago maior. Como não sou especialista em balística, nem em investigação criminal, vou propor uma reflexão a partir de outros pontos.
Quantos de nós ao sofrermos um atentado a tiros teríamos tido espirituosidade de Trump de erguer os punhos, mirar as câmeras presentes no evento e gritar: “Fight! Fight! Fight!”, produzindo, como ele mesmo disse em sua primeira entrevista após o episódio, uma foto histórica? “Muitas pessoas dizem que é a foto mais icônica que já viram”, disse Donald Trump ao New York Post. Não é estranho que alguém que tenha acabado de levar um tiro de AR-15 esteja preocupado com a iconografia da sua imagem em meio a um atentado? Ou Trump é um narcisista high level, ou ele já havia premeditado a cena. Prefiro ficar com a primeira opção, uma vez que a trajetória pessoal e política do candidato republicano nos leva a tal conclusão. Acrescento ainda o fato de que os agentes secretos que faziam a sua segurança permitiram que ele ficasse de peito aberto, exposto a mais tiros, para que ele se posicionasse de forma heroica, com os punhos cerrados e tendo a bandeira dos USA ao fundo.
A reação do público atrás do palco onde Trump discursava também é controversa. O comportamento dos presentes é muito mais de um espanto natural em função dos estampidos dos tiros, do que de pessoas que presenciaram alguém ser atingido por algum desses tiros. Trump alega ter sido atingido de raspão na orelha e disse ao New York Post que “deveria estar morto”. ” Se não tivesse sobrevivido miraculosamente, sim. No entanto, ao observarmos atentamente a cena, vemos Trump levando a mão a orelha e sendo jogado ao chão pelos homens da sua segurança. Ao se levantarem, a orelha direita de Trump está manchada de sangue, supostamente, mas o colarinho de sua camisa não apresenta nem um respingo da mesma substância presente em sua orelha. Se o assunto não fosse trágico, diria que foi um crime do colarinho branco.
Assim como Bolsonaro, Trump também atribui a Deus a salvação de sua vida e revelou que o médico lhe disse que um milagre o salvou. Sei que o atendimento ao candidato republicano não foi em Juiz de Fora, mas a equipe médica que o socorreu parece ter uma ligação espiritual com os médicos que atenderam o ex-presidente brasileiro. Aliás, sobre o atentado contra Trump, Bolsonaro disse que só políticos de bem e de direita sofrem atentados no mundo. Esqueceu de completar o raciocínio dizendo que são os únicos que sobrevivem também. Se não fosse o sujeito obtuso e ignorante que é, Jair Messias saberia que Abraham Lincoln, o presidente que desagradou aos sulistas norte-americanos ao abolir o trabalho escravo no país, e John F. Kennedy, democrata que apoiou o movimento dos direitos civis para negros, não tiveram a mesma sorte. Vai ver que Deus prefere salvar vidas de supremacistas brancos apoiadores da escravização de seres humanos e de regimes de opressão.
Ainda poderia citar Malcolm X e Martin Luther King, expoentes na luta contra o racismo e o conservadorismo naturalizados por pessoas como Trump e Bolsonaro, e que também não foram agraciados por Deus com um milagre divino após sofrerem um atentado a tiros. E olha que Luther King era um pastor evangélico e Malcolm já havia se convertido ao islã. Mas devemos estar falando de deuses diferentes. Outro ponto a ser analisado após o atentado contra Trump, é o fato de ele ter inúmeros processos na justiça, incluindo acusações das mais diversas e graves. O republicano foi considerado culpado por falsificar registros financeiros empresariais para ocultar um pagamento feito à ex-atriz pornô Stormy Daniels, foi acusado de quatro crimes, incluindo conspiração para fraudar os EUA e conspiração contra os direitos dos cidadãos, em função do motim no Capitólio, foi acusado de conspirar criminalmente para reverter sua derrota apertada no Estado da Geórgia nas eleições de 2020 e também de manipular documentos sigilosos do Estado, levando-os para a sua residência após ter deixado o cargo de presidente.
Sofrer um atentado neste momento judicialmente complicado, pode ser considerado mais um milagre de Deus na sua vida. Uma prova disso é que nesta segunda-feira (15), dois dias após o ocorrido, a Justiça Federal dos Estados Unidos encerrou o processo criminal no qual o ex-presidente era acusado de reter em sua casa, os documentos confidenciais e sensíveis à segurança nacional do país, sob a alegação de que o promotor do caso não possuía autoridade para levar o caso à Justiça. Só nesse processo, Trump respondia a oito acusações individuais, incluindo conspiração para obstruir a Justiça, retenção de documento confidencial do Estado e prestação de declarações falsas, que poderiam lhe render 20 anos de prisão. Parece que Deus é mesmo trumpista. O ser mítico auto evocado por ele ao sobreviver a um atentado, pode ser capaz de torná-lo inocente de todas as outras acusações? Pode. E tudo pode acontecer com Donald Trump após este episódio. Até mesmo, a investigação particular encomendada por Joe Biden descobrir que tudo foi armado.
Mas, e o atirador morto pela polícia? E o apoiador de Trump que também morreu? Como pode ter sido uma farsa? Você está louco? Bom! Não seria loucura se pensarmos que não se faz omeletes sem quebrar os ovos. Sobretudo, quando analisamos que o atirador se posicionou para o ataque sob o olhar desconfiado de dezenas de pessoas que, inclusive, teriam denunciado a sua estranha movimentação aos policiais presentes no local. E nenhum dos agentes teria ido identificar o que um jovem de 21 anos fazia em cima de um telhado com uma AR-15 na mão, mirando em direção ao palco onde um candidato à presidência dos USA realizava um comício de campanha. Por segurar um inofensivo guarda-chuva, eu já vi gente ser fuzilada pela polícia carioca. Dever uma questão de foco no trabalho. Enfim, desejo que Trump se recupere do susto, fique bem, perca as eleições, seja preso pelos crimes que cometeu e que nenhum outro político na face da terra sofra atentados contra a sua vida. Sejam eles propostos ou supostos.