
A Prefeitura de Lauro de Freitas, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SESA), promoveu na manhã desta quarta-feira (26/11), na Faculdade Unime, localizada na Avenida Luiz Tarquinio Pontes, o Ciclo Formativo “Saberes Ancestrais: Uso Medicinal das Ervas”. A atividade reuniu profissionais da rede municipal de saúde, alunos da instituição, além de lideranças de religiões de matriz africana, comunidades tradicionais, terreiros e quilombos. O encontro teve como objetivo valorizar e resgatar práticas históricas que marcam a relação da população com as ervas medicinais, fortalecendo o diálogo entre saberes populares e a saúde pública.
Durante o ciclo, foram abordadas práticas ancestrais que utilizam as ervas para combater doenças e promover bem-estar, por meio de chás, banhos de folhas, lambedores, infusões e o benzimento, técnica tradicional muito usada para tratar os chamados quebrantes.
Os participantes também discutiram a importância da homeopatia e da fitoterapia, ressaltando o papel das ervas como aliadas aos tratamentos médicos, e não substitutas, ampliando as possibilidades terapêuticas dentro da saúde integral. Outro ponto de destaque foi a necessidade de preservar a flora medicinal, já que o desmatamento e a degradação ambiental têm reduzido significativamente a disponibilidade de espécies tradicionalmente utilizadas.
O encontro reforçou ainda a urgência do resgate da Farmácia Viva, política que incentiva o cultivo, manejo e uso seguro de plantas medicinais, valorizando parcerias com quem detém esses conhecimentos. A secretária de Saúde, Elba Brito, parabenizou a equipe organizadora pelo avanço no resgate das práticas tradicionais e reforçou que a saúde da população negra é tratada como prioridade pela gestão. Ela destacou o valor das tecnologias de cuidado acessíveis, leves e eficazes, como o uso medicinal das ervas, e a necessidade de ampliar esse aprendizado dentro da rede.
A gestora também lembrou o lançamento recente do projeto Selo Espaço de Saúde Afroreferenciado, que fortalece a parceria da SESA com os terreiros, reconhecendo e apoiando o trabalho de promoção e prevenção em saúde já realizado nesses espaços ancestrais.
A mameto Laura Borges, do Terreiro Tupã Zuriazala, localizado no Jardim Castelão e responsável por conduzir a atividade com seu saber ancestral, destacou o valor desse intercâmbio entre rede de saúde e comunidades tradicionais. “Essa porta aberta junto com a prefeitura, com a faculdade e com nossos irmãos de axé traz uma grande reverência e um grande conhecimento. Que isso possa se estender para outros ciclos, para que possamos ampliar essa troca e contribuir para a melhoria da saúde do corpo, da mente e da comunidade preta, quilombola e de matriz africana”, afirmou.
A professora da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e coordenadora do Coletivo Afrocentrar Saúde, Suiane Costa, reforçou a importância formativa e política da iniciativa. “Vejo este momento como muito potente para provocar mudanças na formação em saúde. A universidade ainda mantém um currículo colonizador, que muitas vezes não prepara profissionais para atender populações negra, indígena, quilombola e de axé. Esta iniciativa é fundamental para fortalecer a política de saúde da população negra, ainda pouco conhecida e praticada”, ressaltou.
A estudante de Psicologia da Unime, Sabrina Silvestre, também compartilhou sua experiência no ciclo formativo. “Temos realizado ações integrativas nas comunidades com o grupo Ação e Extensão, e hoje participar desta formação sobre saberes ancestrais, relações raciais e o uso das ervas como apoio e tratamento medicinal foi uma experiência muito rica para nossa formação enquanto cuidadores da saúde e provedores de cuidado à população negra”, disse.
A atividade consolidou o encontro como um espaço plural de reconhecimento, respeito e reconstrução de práticas que fazem parte da identidade cultural e espiritual da população. O ciclo reafirmou o compromisso do município em integrar saberes ancestrais às práticas contemporâneas de saúde, fortalecendo o cuidado integral e valorizando a diversidade de conhecimentos presentes no território.








